A Criação da EMBRAER

Como já mencionamos aqui, Ozires Silva, conta do sonho de fabricar aviões, mas como será que foi a criação da Embraer? A gente vai explicar um pouco desse processo que fez da EMBRAER uma das empresas mais importantes no universo da aviação. Desde Santos Dumont muitos haviam tentado. Gente boa, gente competente não conseguiu ir à frente porque, segundo Ozires, estava faltando algo no pensamento deles: a visão mercadológica, de fazer um produto que satisfizesse uma necessidade. O time pequeno do qual Ozires fazia parte observou o mercado brasileiro e percebeu uma demanda que alavancou a criação da empresa: as pequenas e médias cidades não eram atendidas por transporte aéreo, já que os jatos existentes precisavam de pistas e infraestrutura específicas. “Pesquisamos e vimos que nenhuma fábrica do mundo fabricava avião pequeno que pudesse satisfazer a realidade desses locais. E nos lançamos na ideia de criar um avião pequeno, que pudesse pousar em pistas não pavimentadas, adaptadas a pequenas cidades”, relembra Ozires.

E assim nasceu o primeiro projeto nas instalações do CTA, ou seja, a criação de um protótipo dessa ideia. “Foi tudo sem recurso, foi muito difícil, ninguém acreditava, os estrangeiros que visitavam nosso projeto diziam que era uma grande besteira. E a gente procurava ver, em cada crítica, um estímulo para avançar. Dessa forma, fizemos o nosso avião em outubro de 1968 e ele ocupou um espaço no mercado – transporte aéreo regional – que existia no mundo inteiro e sem concorrência”, conta Ozires.

Mas o projeto, segundo Ozires, tinha que ser internacional, já que o mercado interno brasileiro não justificava a criação de uma empresa nas dimensões da Embraer. “Nós tínhamos que partir de cara para o mercado internacional. Pensar grande era condição. Então, nós não pensamos grande, nós pensamos enorme. Depois de várias tentativas de se conseguir apoio – no Brasil é difícil achar alguém que queira assumir os riscos de um empreendimento – descobrimos que tinha uma lei da reforma administrativa que permitia criar uma companhia com participação privada e estatal, uma sociedade de economia mista”, explica Ozires.

Um acaso contribuiu para o sonho de Ozires: o avião do Presidente da República da época teve que pousar em São José dos Campos por questões meteorológicas. Por ser domingo de manhã, nenhuma autoridade foi encontrada para recebê-lo. Restou a Ozires, que estava de plantão, fazer as honras. E ele não desperdiçou a oportunidade. “Eu me preparei da melhor forma que eu podia para fazer a maior lavagem cerebral da minha vida na cabeça do presidente para que ele concordasse em criar uma sociedade de economia mista e a gente pudesse lançar o nosso projeto. E o presidente acreditou”, se diverte Ozires. E continua: “Disse que íamos fabricar aviões de todos os tipos e vender pro mundo inteiro, invertendo a balança comercial do Brasil, que de importador passaria a ser exportador de aviões”.

A Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica – foi criada e à partir de 2 de janeiro de 1970 começou a funcionar. “Tínhamos que ter estratégia, olhar para o futuro. Tínhamos produtos originais, de marca brasileira, que podiam varrer o mercado internacional. Para isso, tínhamos que trabalhar para conceber as tecnologias necessárias, estabelecer as parcerias que fossem fundamentais, realizar investimentos em educação e formar pessoal. Assim começamos”, lembra.

 

O processo de internacionalização da EMBRAER

A empresa realizou a primeira exportação em 1975, quando vendeu cinco EMB 110 Bandeirantes à Força Aérea Uruguaia e apresentou o avião agrícola EMB 200 Ipanema ao Ministério da Agricultura daquele país. A entrada no mercado americano, a partir de 1978, se deu com uma adaptação do Bandeirante para atender à regulamentação de aeronaves de até 19 passageiros. Na sequência, teve início o processo de expansão global da Embraer quando, em 1979, a Embraer Aircraft Company iniciou as atividades de vendas e apoio técnico a novos clientes do mercado americano. Menos de quatro anos depois, em fevereiro de 1983, a empresa se estabeleceu na França, após a encomenda de aviões Xingu. “Fizemos também o tucano e hoje ele se transformou no melhor avião de treinamento que está no mercado atual. Treina pessoal da força aérea inglesa, da francesa, da grega… Temos 20 forças aéreas do mundo utilizando o tucano para treinamento, inclusive o Brasil”, comenta Ozires.

Com a crise de 1990, Ozires se viu em um impasse: “Tive que correr o risco de propor a privatização da companhia, porque a legislação estava complicada. O fato é que precisava privatizar para simplificar os processos da empresa”, lembra. A partir daí, o movimento de ampliação da presença global ganhou novo impulso, que permitiu à empresa uma nova postura corporativa, mais ágil e flexível, com capital de novos acionistas controladores. “Durante esse período, fizemos o projeto do EMB 145 (primeiro jato de transporte aéreo regional para 50 pessoas) e ele foi um sucesso internacional. Criamos empresa de vendas e começamos a assumir a venda dos nossos aviões. A Embraer é uma multinacional presente em todos os países do mundo, com brasileiros vendendo aviões”, fala orgulhoso, Ozires.

aviao-embraer-solo

A diversificação do portfólio de produtos também foi estratégica para a internacionalização. Criaram o avião Brasília, pressurizado. Também produziram quatros aviões para atender grupos de 70 a 110 passageiros. A Embraer lançou a linha de seis jatos executivos e bateu recorde mundial de entregas desse tipo de avião. “O próximo passo é o avião supersônico para a FAB, quem sabe pensar até em avião supersônico de transporte. Temos o DNA disso tudo para continuar no processo de empreendimento. Nós criamos realmente uma multinacional. Estamos nos Estados Unidos, em Portugal, na França, na China, em Singapura. Temos subsidiárias que estão fazendo o trabalho de venda, peça de reposição, assistência técnica e tudo que faz parte de uma operação tecnológica”, explica Ozires.

Além de expandir escritórios de marketing e vendas e implantar centros de distribuição de peças de reposição, a estratégia de internacionalização da Embraer envolveu também ações como a constituição de joint ventures e a aquisição de empresas tradicionais especializadas em serviços aeronáuticos.

Fonte: O Brasil vai além

Deixe aqui sua opinião