A ousadia brasileira na histórica travessia aérea do Atlântico

Céu, mar e aeronave. Em uma única estampa, a Hangar 33 reúne algumas paixões de todo aviador para lembrar a essência tropical das aventuras aeronáuticas brasileiras.

Porém, a cena vai além, e celebra também um dos episódios de maior ousadia do início da aviação nacional: a histórica travessia aérea do Atlântico, cumprida por João Ribeiro de Barros e sua equipe de tripulantes, em 1927.

camiseta

No início dos anos 1920, João Ribeiro de Barros largou o curso de Direito em terras brasileiras para se dedicar ao estudo de engenharia mecânica nos EUA. Em 1923, com brevet internacional nº 88 da Liga Internacional dos Aviadores, iniciava efetivamente sua carreira de piloto, tendo logo após se aperfeiçoado como piloto de acrobacias aéreas na Alemanha.

Em 1926, por sua vez, iniciava o projeto que o tornaria famoso: realizar um “raide” – como eram chamadas as travessias aéreas transatlânticas – a bordo de um hidroavião. A ideia era partir da Itália e chegar ao Brasil sem utilizar navios de apoio, de forma totalmente independente.

JoaoRibeirodeBarrosJoão Ribeiro de Barros | Imagem: Reprodução

Nesta época, no entanto, existia uma disputa não declarada entre vários países pelo domínio aeronáutico mundial. França, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha se empenhavam em consagrar voos transoceânicos e ganhar o status da supremacia dos ares.

Assim, o piloto Ribeiro de Barros, ao pedir auxílio ao governo brasileiro para seu projeto, teve a ajuda oficial negada. Seu objetivo foi considerado impossível: já que nações mais “avançadas” ainda não haviam alcançado o feito, se presumia que o Brasil não teria chance – e muito menos o país desejava se indispor com tamanha ousadia frente às potências da época.

Sem perder o ânimo, Barros vende toda sua herança e parte para a Itália. Por lá, adquire um avião Savoia-Marchetti S.55 avariado e promove diversas reformas para melhoria de velocidade e autonomia. O aparelho, que saiu da fábrica com o nome original de “Alcione”, é rebatizado pelo novo proprietário com o nome Jahú, em homenagem à sua cidade natal, no interior de São Paulo (hoje, Jaú).

3Imagem: Reprodução

Em 18 de Outubro de 1926, o piloto brasileiro e sua equipe partem da cidade italiana de Gênova com destino às ilhas de Cabo Verde para iniciar a sua primeira travessia do Atlântico. O que não se esperava era que teria o avião sabotado, sendo obrigado a pousar em Alicante, na Espanha, para reparos – onde descobriu uma peça de bronze colocada no carter do aparelho,  além de água, areia e sabão no sistema de alimentação do motor.

De lá, após chegarem em Cabo Verde, Barros contrai malária, o que lhe obriga a esperar mais um tempo antes da travessia. Neste período, recebeu um telegrama do governo brasileiro ordenando que desistisse de sua tentativa de cruzar o Atlântico. Deveria também desmontar a aeronave, encaixotá-la e embarcar a mesma em um navio que seguisse para o Brasil.

Diante da petulância do governante, que não o apoiava financeiramente, Barros deu apenas uma curta resposta: “Exmo. Sr. Presidente: Cuide das obrigações do seu cargo e não se meta em assuntos dos quais vossa excelência não entende e para os quais não foi chamado, assinado: Comandante Barros.”

Por fim, após sofrer sabotagens, chantagens de companheiros e até mesmo o desdém do presidente Washington Luís, Barros perseverou, e às 4h30 da manhã no dia 28 de abril de 1927, partindo da Ilha de Santiago (Cabo Verde), cruzou o Atlântico com seus três companheiros a bordo do Jahú, pousando às 17h na enseada norte da Ilha de Fernando de Noronha.

DSC06560Imagem: Reprodução

Apesar de ter enfrentado chuva e de um dos motores ter tido problemas durante a viagem, João Ribeiro de Barros conseguiu estabelecer um recorde de velocidade que só foi batido alguns anos depois. Recuperado e triunfante, pousou em cada uma das grandes cidades do litoral brasileiro, tais como Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, onde foi recebido com grandes festas e honras.

O hidroavião Jahú também recebeu o devido reconhecimento: foi restaurado e hoje se encontra exposto no Museu da TAM, em São Carlos (SP). Trata-se da única aeronave transatlântica da época que ainda existe e está com sua configuração original.

6081510810_0c87944fc7_bImagem: Reprodução João Paulo Estevam

Saiba mais sobre a viagem transatlântica e outras aventuras do audacioso piloto João Ribeiro de Barros

Via Wikipedia

Deixe aqui sua opinião