Capitão Eric “Winkle” Brown, uma lenda viva da aviação

Ele foi o primeiro homem a voar uma aeronave a jato para e a partir de um porta-aviões. Estabeleceu recordes da aviação que provavelmente nunca vão ser batidos e é reverenciado como um dos maiores pilotos de testes de todos os tempos. O britânico Eric “Winkle” Brown, capitão da Marinha Britânica (Royal Navy), é inquestionavelmente um dos nomes que encabeçam a lista dos mais extraordinários aviadores ainda vivos de toda a atualidade.

O que se pode questionar, sim, é como Winkle Brown conseguiu sobreviver até hoje a tantas aventuras. Voou mais aviões do que qualquer outro piloto na história e enganou a morte por várias vezes: esteve a bordo de um navio torpedeado,  testou aeronaves inimigas de que não se tinha conhecimento como pousar – e até mesmo derrotou dois mil prisioneiros inimigos armado apenas com uma pistola.

p2Eric “Winkle” Brown | Imagem: Reprodução

Por tudo isso, não é de se admirar que, quando chegou ao Palácio de Buckingham, com apenas 28 anos, para receber pela quarta vez a Air Force Cross, o então rei George VI o saudou com: “Oh, não! Você aqui de novo!?“.

É claro que  também não haveria de ser a sua última vez: ele recebeu ainda a Comenda do Rei por Conduta Admirável e, anos mais tarde, se tornou Ajudante de Campo da Rainha, acrescentando ainda a medalha de Comandante da Ordem do Império Britânico à sua coleção.

A carreira de Winkle Brown teve início graças às Olimpíadas de 1936, em Berlim, na Alemanha. Seu pai, que havia servido no Royal Flying Corps (RFC) durante a Primeira Grande Guerra, decidiu levá-lo, junto com outros colegas da corporação, para assistir aos Jogos. Terminaram todos recepcionados pelo piloto Ernst Udet, um carismático Ás da Primeira Guerra, que após levar o jovem Eric para voar, insistiu que ele deveria aprender a pilotar!

Durante os seus estudos em Edimburgo, Brown aprendeu alemão e se juntou à esquadra de aviação da universidade. Acolhido por Ernst, foi apresentado a alguns dos principais ases da Luftwaffe. Porém, em 1939, estando na condição de um jovem inglês na Alemanha com uma bolsa de estudo, foi surpreendido por um oficial da SS.

Os nossos países estão em guerra” disse, antes de levá-lo para um interrogatório. Felizmente, o deixaram vivo, entregue na fronteira Suíça, de onde seguiu para casa o mais rápido possível para se alistar à Royal Air Force (RAF).

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Devido à falta de vagas na RAF e às baixas da Royal Navy (RN), após a perda do porta-aviões HMS Courageous com mais de 500 homens a bordo, sem hesitar, Brown se transferiu para a aviação da Marinha e recondicionou seu treino para se tornar aviador naval.

Em pouco tempo, estava operando no HMA Audacity, um porta-aviões que escoltava comboios navais entre a Grã-Bretanha e Gibraltar. A sua bravura cedo lhe garantiu a Cruz de Serviços Distintos. Em dezembro de 1941, o seu navio foi torpedeado e afundado a 450 milhas do Cabo Finisterra. Sendo piloto, tinha o colete salva-vidas adequado e foi um dos poucos sobreviventes, depois de permanecer por várias horas na água.

De volta ao serviço, suas capacidades excecionais de piloto já eram conhecidas e ele foi transferido para funções especiais como piloto de testes. Entre as suas tarefas, refinava técnicas voando Spitfires, Hurricanes e Mosquitos a partir de navios, ampliando assim a capacidade da aviação da Marinha.

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À medida que os aliados progrediam pela Itália e França, Brown também se tornou comandante de uma unidade bastante exótica: a de investigação e voo de aeronaves inimigas, em Farnborough. As suas funções consistiam em capturar e avaliar o máximo de material inimigo que pudesse encontrar.

Um dos mais desagradáveis aviões pesquisados foi o Messerschmitt 163, um avião com motor de foguete que funcionava a partir de explosivo líquido. Dezenas de pilotos alemães tiveram baixa tentando desenvolver o aparelho, mas Brown explicou com risadas o truque usado para sobreviver: “percebi rapidamente que a única maneira de aterrissar sem explodir era esgotando primeiro o combustível, razão pelo qual o timing tinha que ser bem calculado“.

Em uma de suas diversas investidas em campo, voou para uma base aérea na Dinamarca para descobrir que os aliados ainda não a tinham reconquistado: “eu estava num pequeno Avro Anson e ainda havia uns dois mil soldados inimigos lá. Pensei que encontraríamos resistência ao aterrissar, mas o comandante veio ao meu encontro, me entregou sua espada e se rendeu no local.

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Ao fim da Guerra, dado o seu conhecimento na língua alemã e em aeronaves, ele próprio interrogou inimigos de alto escalão – como o fabricante de aviões Ernst Heinkel e o projetista Willie Messerschmitt. Na ocasião, não foi muito amigável com Messerschmitt: “acusei-o de comprometer a segurança dos seus aviões, porque as asas de alguns cediam. Ele podia ter parado isso!“, disse.

Após a Segunda Guerra, Winkle trabalhou ainda com Sir Frank Whittle, o inventor do motor a jato, registrando com risco de vida, numerosas inovações no campo da aviação a reação.

Nos seus muitos recordes, está o de maior número de aterrissagens em porta-aviões: 2.407 (o piloto da US Navy que tentou bater o seu recorde chegou apenas a 1600, antes de sofrer um colapso nervoso). É também muito improvável que alguém consiga bater o seu recorde de voar nada menos que 487 modelos diferentes de aviões.

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Um orgulhoso avô e bisavô, o capitão é um típico herói da sua geração, insistindo que “estava apenas a cumprir o dever”. Mas “Winkle” Brown não presenciou apenas a história: ele também a fez. E que grande história!

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