Conheça as velocidades aeronáuticas

Dos inúmeros instrumentos dispostos no painel de um carro, o velocímetro talvez seja um dos principais. Por isso, se indagássemos a respeito das velocidades que este veículo pode ter, a dúvida seria no mínimo esquisita.

Porém, diferente do que acomete os veículos terrestres, no contexto da aviação, as variantes são inúmeras e a mesma pergunta se torna muito apropriada. E não apenas isso: ela é indispensável à segurança dos pilotos.

Para entender melhor, separamos alguns tipos de velocidades existentes e aplicáveis na aviação, desde as mais conhecidas às mais específicas. Conheça:

1- IAS/VI (Indicated Airspeed): velocidade indicada no instrumento de velocidade, o velocímetro. É a velocidade sem a correção dos erros de indicação, instalação ou compressibilidade. O Tubo de Pitot (link para post do blog sobre o assunto) capta o impacto das partículas de ar gerando uma pressão dinâmica na capsula aneróide que expande-se, gerando o movimento do ponteiro do velocímetro.

É a velocidade utilizada em procedimentos de decolagem, pouso, aproximação, indicada em diversas cartas aeronáuticas. Todas as restrições de velocidade em procedimentos são citadas em Indicated Airspeed bem como na fonia quando é dado instruções de mudança de velocidade. Representação usual em kt (nós) nas formas de IAS, KIAS (knots) ou simplesmente VI.

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2- TAS/VA (True Airspeed): é a velocidade da aeronave em relação a massa de ar na qual ela está voando, ou seja, a Velocidade Indicada corrigida para os erros de altitude e temperatura. Trata-se da velocidade real ou verdadeira, daí o seu nome. Representação usual em knots (kt / nós) na forma de TAS ou KTAS. Esta velocidade é empregada nos cálculos de planejamento de voo e a mesma é exigida no preenchimento dos Planos de Voo. A Velocidade Aerodinâmica é obtida a partir da VC (Velocidade Calibrada – veja na sequência a sua definição), desde que se tenha à disposição do piloto a temperatura na altitude sobrevoada.

3- GS/VS (Ground speed): trata-se da velocidade que a aeronave desenvolve em relação ao solo. Esta velocidade é apresentada nos FMS (Flight Management System) e GPS (Global Posicioning System). A Velocidade GS é composta pela TAS e a componente do vento atuante, muito calculada pelos alunos dos cursos de formação através dos Computadores de Voo. A partir dela é possível estimar o tempo necessário para vencer as distâncias entre referências ou auxílios rádio em uma navegação.

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4- VC/CAS (Calibrated Airspeed): trata-se da Velocidade Indicada corrigida para os erros de indicação e instalação do instrumento. A Velocidade Calibrada corrigida para os erros de altitude e temperatura torna-se a Velocidade Aerodinâmica. Após a aferição de um mecânico especializado, a VI será idêntica a VC. Também poderá ser expressa em KCAS – a Velocidade Calibrada demonstrada em kt.

5- Número Mach: Trata-se da velocidade utilizada como referência no voo em aeronaves velozes normalmente equipadas com motores à reação. A velocidade do som corresponde a velocidade de propagação de uma onda sonora. O número “Mach” é uma unidade relativa que expressa a razão entre a velocidade (TAS) de um objeto e a velocidade do som. Por exemplo: TAS 240/660 kt em 15°C = 0,36 M ou 36% da velocidade do som. Leia mais sobre o Mach em nosso post especial sobre voo supersônico

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6- VV (Velocidade do Vento): é a intensidade da componente do vento. Em cartas meteorológicas a VV pode ser citada em m/s metros por segundo. Para converter para kt, basta multiplicar m/s por 1,94.

As velocidades acima citadas aplicam-se a todas as aeronaves, e é possível obtê-las a partir do indicador de velocidade, FMS, PFD ou GPS da mesma.

A seguir, apresentamos algumas nomenclaturas que se referem a velocidades cujo valor será específico para cada aeronave, considerando parâmetros de motor, desempenho, peso, processos construtivos, tipo e número de motores, coeficiente de sustentação, etc.

1- V1: durante a corrida para decolagem a V1 é a velocidade máxima para a decisão do piloto em decolar ou abortar a decolagem. Até a V1 é possível abortar a decolagem sem causar dano estrutural à aeronave. Acima da V1 a decolagem deve ser executada. V1 dada em IAS.

2- Vr (rotate velocity): velocidade calculada pelo FMS da aeronave ou indicada em tabelas e gráficos que leva em consideração temperatura e umidade do ar, pressão atmosférica, peso da aeronave, altitude do aeródromo, componente do vento e configurações da aeronave. É a velocidade em que o piloto deve rodar o eixo longitudinal da aeronave elevando o nariz (cabrar o manche) iniciando decolagem. A Velocidade de Rotação também é dada em IAS.

3- V2 (Velocidade de Decolagem e Subida): é a velocidade a ser atingida a 35 pés sobre a pista (10 metros), e deve ser igual ou maior que 120% da Velocidade de Estol na configuração de decolagem e 110% acima da Velocidade Mínima de Controle no ar.

4- Vmbe (Velocidade Máxima para Inicio da Frenagem): quando se freia uma aeronave, sua energia cinética é transformada em energia térmica, isto é, calor. Os freios devem ser capazes de suportar o calor, para tanto existe uma velocidade específica (definida em projeto) em que não haverá dano à aeronave se os freios forem corretamente aplicados a partir dela.

5- Vne (Velocidade Nunca Exceder)/MNE (Número MACH Nunca Exceder): é o limite de velocidade ou velocidade Mach que nunca de ser excedida, sob pena de desintegração estrutural da aeronave em voo.

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6- Vest (Velocidade de Estol): é a mínima velocidade constante de voo na qual aeronave possuí sustentação capaz de permitir o controle pelo piloto. Esta velocidade é crítica e, não observada, a aeronave se “descola” da lâmina de ar que a sustenta e literalmente cai do ar em que voa. Para a recuperação de sua sustentação, basta aplicar manche para frente (picar a aeronave), até que a mesma ganhe velocidade suficiente para novamente se sustentar.

7- Vso (Velocidade de Estol em Configuração de Aterragem): é a mínima velocidade constante de voo na qual a aeronave, em configuração de aterrissagem, ainda é controlável. Esta velocidade é muito crítica, pois não observada a aeronave “despenca” do ar e, em baixas altitudes não será mais possível recuperá-la.

8- Vle (Velocidade Máxima com Trem de Pouso Baixado): É a máxima velocidade na qual o avião pode voar seguramente com o trem de pouso abaixado.

9- Vlo (Velocidade Máxima de Operação do Trem de Pouso): é a máxima velocidade na qual o trem de pouso pode ser seguramente recolhido e baixado.

10- Vno (Velocidade Máxima Estrutural de Cruzeiro):  é a velocidade que não deve ser excedida, a não ser em atmosfera calma, mesmo assim com cautela. Esta é a velocidade em que excedendo o limite G causará deformação permanente na estrutura da aeronave.

11- Vx (Velocidade de Melhor Ângulo de Subida): é a velocidade que possibilita o maior ganho de altura na menor distância horizontal percorrida. É a velocidade empregada para livrar o quanto antes obstáculos em terra que possam apresentar perigo ao voo.

12- Vy (Velocidade de Melhor Razão de Subida): é a velocidade que possibilita o maior ganho de altitude no menor intervalo de tempo, definida no projeto da aeronave e empregada no Perfil de Subida, etapa do voo que se inicia após a decolagem até uma referência conhecida como TOC (Top of Climb), momento em que a aeronave alcança o Nível de Voo (FL) desejado e procede ao arredondamento para voar em Regime de Cruzeiro.

13- VCruz (Velocidade de Cruzamento): é a velocidade em que a aeronave deve cruzar a cabeceira da pista a uma altura de 15 m (50 pés) acima do solo, na aterrissagem.

14- Vfe (Velocidade Máxima com os Flapes Abaixados): maior velocidade permitida com o flap em posição prevista de abaixado. Isto é devido as cargas impostas à estruturas dos flaps.

15- Vsso (Velocidade de Saída no Solo): é a velocidade na qual a aeronave deixa de fazer contato com a pista, na decolagem.

Voe com segurança, sempre!

Imagens: Reprodução

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