Conheça o aviador que atravessou o Atlântico em um girocóptero

Após sobrevoar uma floresta pegando fogo, escapar de uma tempestade de raios, pousar com apenas poucas gotas de combustível no tanque e quase se afogar ao encalhar num lago tailandês, Norman Surplus tornou-se a primeira pessoa no mundo a cruzar o Atlântico em um girocóptero. Mas tamanho desafio foi realizado em nome de uma causa mais do que nobre.
A jornada global do aviador – cuja inspiração veio a partir de um programa de televisão que assistia enquanto se recuperava de um câncer – surgiu para angariar fundos para a Bowel Cancer UK. A ideia acabou se tornando um épico voo de longa distância, onde pouco após cruzar a costa da Groenlândia, ele quase se perdeu sob a névoa das Ilhas Faroé.

Acompanhe mais detalhes desta aventura na entrevista a seguir:

Norman Surplus
Norman Surplus

1 – O que o fez embarcar nesta aventura?

Norman Surplus – Eu fui diagnosticado com um câncer de intestino avançado aos 40 anos e foi tudo muito repentino. Eu tive sorte de me recuperar. Enquanto estava no hospital, eu vi um programa sobre a restauração de um velho girocóptero e eu decidi aprender a pilotá-lo. Durante o treinamento, eu descobri que nenhuma aeronave autogiro havia cruzado o mundo, logo tomei a decisão de realizar esta conquista para ajudar a Bowel Cancer UK.

2 – Quais foram os momentos mais incríveis da sua jornada?

NS – Sobrevoar os cumes das cordilheiras, na costa do Pacífico, ao lado de uma águia americana foi incrível; igualmente foi observar mais de uma dúzia de baleias entre a Groenlândia e a Islândia; e sobrevoar um gêiser em erupção no Parque Nacional de Yellowstone.

Norman Surplus - Voando ao redor do Devils Tower (EUA)
Voando ao redor do Devils Tower (EUA)

3 – E quais foram os momentos mais assustadores?

NS – Sobrevoar a costa da Groenlândia foi complicado. Não se tratava de uma “aviação” comum! Que paisagem brutal e impiedosa! E também, cruzar o Atlântico Norte, perto das Ilhas Faroé, eu fiquei sem orientação ao rondar uma nuvem a apenas 90 metros de altitude. Logo no começo da viagem, em Myanmar, eu perdi toda a comunicação mas por sorte uma aeronave que passava por lá conseguiu retransmitir as minhas mensagens!
Mas acho que o pior de tudo foi perceber que eu estava preso, de ponta cabeça, debaixo d’água, numa batida na Tailândia. Eu acabei me afundando num pântano logo após a decolagem, por conta de condições ruins e de uma urgência ao me desviar de linhas de voltagem de baixa altitude! Fiquei preso a menos de um metro sob a água até poder desatar o cinto de segurança e me jogar para a superfície. Na hora não foi assustador, mas o choque veio depois.

4 – Você achou que fosse o fim da viagem?

NS – Sim. Mas os autogiros são fortes. A aeronave ficou um tanto quanto danificada, mas a fantástica equipe local nos ajudou a fazer o motor funcionar novamente. Tive que esperar nove semanas pela permissão dos reparos e mais três semanas para a reconstrução geral.

Norman Surplus - O Girocóptero a 3.200 metros sob o Parque YellowstoneO Girocóptero a 3.200 metros sob o Parque Yellowstone

5 – O seu girocóptero é bem básico, com uma cabine de pilotagem aberta e instrumentos limitados. Como é voar nele?

NS – É parecido com voar uma motocicleta durante 4-6 horas por dia non-stop sob todas as condições climáticas! Um tanto agradável quando está quente lá fora, não tão agradável assim quando está frio. A haste direita dos meus óculos escuros quebrou de tanto que eu voei para leste. Foi um trabalho duro, porque não existia a função piloto automático e nenhum copiloto. Logo tive que fisicamente pilotar a aeronave o tempo inteiro.

6 – Qual foi o maior desafio de todos?

NS – A travessia do Atlântico Norte. Foi a primeira travessia realizada por uma aeronave autogiro. De certa maneira, toda a circunavegação pôde ser encarada como um “treino intensivo” para se realizar o voo completo – foi, de longe, a seção mais técnica e mentalmente desafiadora da jornada. Fazia muito frio na cabine de pilotagem, eu tinha que acreditar 100% e ter a convicção na minha capacidade de realizar aquela missão. Não havia absolutamente nenhum espaço para duvidar de mim mesmo ou ficar ansioso. Eu não havia realmente percebido o significado daquilo tudo até eu estar de fato lá! O isolamento se instaurou enquanto sobrevoava o imenso vazio do norte do Quebec, no Canadá, até eu retornar ao Reino Unido.

Norman Surplus - Pausa para reabastecimento no deserto sauditaPausa para reabastecimento no deserto saudita

7 – E… qual é a próxima?

NS – Eu vou ser comentarista de TV para os Jogos Mundiais Aéreos da FAI – Federação Aeronáutica Internacional. Também vou estar ocupado, escrevendo um livro para amarrar toda a experiência vivida. E se por acaso o presidente Putin ou a Federação Russa ler este artigo e me garantir a permissão de voo necessária, eu também gostaria de realizar o recorde de circunavegação mundial novamente.

Norman Surplus - Pousando em Larne, Irlanda do NortePousando em Larne, Irlanda do Norte

FATOS E ESTATÍSTICAS SOBRE A VIAGEM
Distância: 21.300 milhas náuticas (39.450km)
Tempo total: 309 horas de voo
Potência: 115 cavalos
Alcance: 3 horas padrão; até 7,5 horas com tanque de combustível extra
Velocidade máxima: 160 km/h
Velocidade de cruzeiro: 130 km/h

Realmente é uma história muito inspiradora para todos os amantes da aviação. E você, toparia este desafio? Conta para a gente nos comentários, queremos saber!

Até a próxima e bons ventos!

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