No início da indústria do transporte aéreo comercial, a Imperial Airways significava o meio de transporte do Reino Unido para o resto do mundo. Como a única empresa do mundo a fazer voos internacionais nas décadas de 1920 e 1930, foi responsável por mostrar a todos (que tinham as respectivas condições financeiras de bancar uma passagem) os lugares que eram domínios da Coroa Britânica.
Ao término da Primeira Grande Guerra, um sobressalente número de aviões militares representaria o início de uma próspera indústria de aviação comercial. À época, sob baixo investimento, o governo britânico juntou as poucas empresas aéreas que subsistiam para formar a Imperial Airways, criada em 1924.
A companhia foi concebida como uma malha privada – e altamente subsidiada – que operaria um sistema de monopólio com o apoio público. Sua função: levar o correio e passageiros até os confins do mundo.
Os aviões da Imperial dos anos 1920, feitos de madeira e tecido, lentamente se transformaram nos aviões dos anos 1930, feitos em metal. Mas isso não aconteceu só porque os aviões mais modernos eram mais elegantes e eficientes. Os aviões novos também acolhiam uma segunda missão da Imperial Airlines: manter ilustrado o Império Britânico.
Aviões de madeira, da década de 1920
Aviões em metal dos anos 1930, mais resistentes aos diferentes climas
O particular interesse no uso de material mais rígido estava também ligado à vasta extensão de um Império, que então abrigava uma incrível variedade de climas. O então Ministério da Aeronáutica incentivava os fabricantes a usarem metais na fabricação porque além dos designs mais resistentes e aerodinâmicos, nas áreas tropicais, o metal era mais durável do que a madeira.
Porém, a velocidade se tornou a principal novidade na mudança. Enquanto nos anos 1920 a velocidade média de cruzeiro era de 160 km/h ou menos, já em meados da década de 1930 os aviões começaram a atingir velocidades de cruzeiro que variavam entre 225 e 332km/h. Essa melhoria fez com que as viagens internacionais se tornassem não só possíveis, mas também práticas.
A troca do biplano para o monoplano também tornou a experiência da viagem mais espaçosa e moderna. Viajantes abonados gostavam da sensação de já estarem “no futuro”. Com partes iguais de aventura e luxo, tomar um voo internacional em 1930 era uma experiência – e quem podia pagar o preço, fazia questão viver essa emoção.
Aproximadamente 50 mil pessoas voaram pela Imperial Airways, entre os anos de 1930 e 1939. Mas esses passageiros pagaram quantias incrivelmente altas para passear pelo mundo. Os voos mais longos poderiam cobrir uma distância de mais de 12 mil km e custar em torno de 20 mil dólares, em valores atualizados.
O avião Armstrong Whitworth, mostrado nos principais anúncios publicitários da companhia, surgia em dois modelos: o European Class (para viagens curtas) e o Imperial Class (para excursões maiores). O modelo European acomodava 32 passageiros e incluía uma copa e três banheiros.
Se o voo fosse noturno, havia também o Empire Class, que acomodava três banheiros e apenas 20 passageiros, pois esse era o número de camas que a aeronave levava.
A Imperial Airways apelava para o consumidor que desejava a maneira mais luxuosa de viajar. Mas nem sempre era muito agradável, embora se tratasse da tecnologia mais avançada da época. Às vezes as pessoas passavam mal e recipientes eram colocados discretamente debaixo dos assentos para garantir que os passageiros tivessem onde vomitar. (A pressurização das cabines não ocorreria até os anos 1950, então as pessoas ficavam enjoadas por conta da altura e muitas vezes precisavam receber oxigênio.)
A temperatura dentro da cabine era outro ponto a ser considerado, uma vez que verdadeiras histórias de terror sobre voos muito frios eram comuns no final de década de 1920. Em 1939, a Imperial Airways esperava assegurar aos passageiros que esses desconfortos estavam todos no passado: “Não há necessidade de agasalhar e se enrolar em cobertores. Todos os aviões têm aquecimento e ar-condicionado. E não se preocupem com o barulho: todas as paredes são acusticamente isoladas, o que permite conversar num tom de voz normal.”
Graças aos novos aviões, a expansão das rotas aéreas através do Império Britânico também aconteceu de forma relativamente rápida. No começo de 1932 havia voos para Cape Town, na África do Sul. Em 1933, os voos da Imperial Airways já chegavam a Calcutá, na Índia. Já em 1934 teve início um serviço regular de voos para a Austrália.Hospedagem, alimentação e praticamente qualquer despesa estavam inclusas no preço das passagens (exceto as bebidas alcoólicas). Mas apesar de parecer vantajoso, era uma dor de cabeça. A exemplo, uma viagem de Londres a Singapura, com 13.600 quilômetros, levava oito dias e incluía paradas em Paris, Brindisi, Atenas, Alexandria, Cairo, Gaza, Bagdá, Basra, Kuwait, Barém, Sharjah, Gwadar, Karachi, Jodhpur, Déli, Cawnpore, Allabad, Calcutá, Akgats, Rangoon, Bancóc e Alor Star. Se isso é cansativo de ler, imagine de visitar.
Mas ainda era o jeito mais fácil de ir de Londres a Singapura em 1930, mesmo levando em conta a ocorrência, bastante comum, de pousos de emergência. Naquela época, oito dias era praticamente a velocidade da luz, mas a companhia aérea usava o senso de aventura enquanto tentava assegurar aos passageiros que todas as suas necessidades seriam supridas.
Assim, devido à sua localização geográfica, Cairo se tornou um dos aeroportos mais movimentados do mundo e toda a frota da Imperial Airways, com destino à Europa, África ou Ásia convergiam para a capital do Egito. A cidade era o ponto de partida das rotas da Imperial Airways para o resto do mundo, fosse para a África do Sul, para o sudeste da Ásia ou a Austrália.
Aliás, a rota de quase 13 mil quilômetros que levava de Cairo a Cape Town realizou um sonho britânico do final do século 19: as viagens aéreas na África, sendo que os primeiros voos para a África do Sul eram um passo importante para afirmar a força do Império. Grande parte do continente passou então a estar a apenas a dias (em vez de semanas) de distância de Londres.
Em 1938, a Imperial Airways tinha uma rede de cerca de 40 mil km e chegava a cada canto do vasto Império Britânico. E como Gordon Pirie nota em seu artigo de 2004 sobre as viagens aéreas britânicas, no começo da Segunda Guerra, as rotas internacionais da Imperial Airways eram responsáveis por 90% das distâncias percorridas pela empresa.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, voar com os ricos e famosos através do mundo já não se encaixava no ideal britânico para a aviação. A Imperial se fundiu com a British Airways em 1939 para criar a British Overseas Airway Corporation – visto que a maior preocupação passou a ser o esforço da guerra.
Imagens: Reprodução Gizmodo US
Via Gizmodo BR