TU-114, o mais impressionante turbo-hélice da história

Via Cultura Aeronáutica

O fabricante russo Tupolev criou as aeronaves turbo-hélice mais impressionantes da história. Inclusive, a aeronave que foi o maior avião comercial de passageiros em serviço no mundo durante os anos 1960: o Tu-114 Rossiya.

tupolev1Imagem: Reprodução Moddb.com

A aerodinâmica dos Tu-114 era muito avançada, com asas enflechadas a 35° – com um desempenho muito bom, pois quase se igualava ao dos jatos contemporâneos como o Boeing 707 e o Douglas DC-8. Sua velocidade máxima era de 470 Kt (870 Km/h), teto de até 39 mil pés e uma autonomia de 6.200 Km.

Até hoje, este é considerado um desempenho espetacular para uma aeronave turbo-hélice. O peso máximo de decolagem era de 175.000 Kg, bem maior que o do Douglas DC-8-63, a segunda maior aeronave de passageiros do mundo dos anos 1960 (161.000 Kg).

Vale destacar que o Tu-114 foi concebido a partir da aeronave militar Tu-95 (veja um post especial sobre o projeto aqui no blog), um bombardeiro estratégico de longo alcance. O modelo era equipado com quatro monstruosos motores Kuznetsov NK-12MV, cada um deles gerando cerca de 14.800 SHP e girando um par de hélices contra-rotativas coaxiais.

tupolev2Imagem: Reprodução Wikipedia

Antes de efetivamente entrar em serviço, os russos fabricaram duas aeronaves Tu-116, que eram bombardeiros Tu-95 convertidos para aeronaves de passageiros. Estes modelos experimentais operaram algumas rotas dentro da ex-URSS, até serem substituídos pelos Tu-114, de fuselagem muito mais larga e muito mais confortáveis.  Ao todo, 31 aeronaves Tupolev Tu-114 Rossiya chegaram a ser fabricadas.

O maior usuário comercial do Tu-114 foi a Aeroflot, a empresa aérea nacional soviética. Curiosamente, o modelo também foi operado pela Japan Airlines (JAL), configuradas em duas classes com um confortável arranjo de 105 assentos.

tupolev3Imagem: Reprodução Cultura Aeronáutica

Devido ao grande diâmetro das hélices, o trem de pouso era muito alto. A partir do nariz, chegava a três metros de altura. Era tão alto que, em uma viagem de testes para Washington (EUA), que precedeu a primeira visita do Premiê Nikita Khrushchev ao país, não foi possível arrumar uma escada que alcançasse as portas do avião!

Em seu deck inferior ficavam as galleys e as acomodações dos tripulantes (os “sarcófagos”), ideia reeditada mais recentemente em alguns modelos Airbus A340. As hélices, devido à grande velocidade do avião, giravam a 750 rpm – e mesmo assim produziam um grande ruído, já que as pontas das pás operavam em velocidade supersônica, sendo a maior parte da tração em cruzeiro fornecida pela metade interna das pás.

Aliás, talvez o Tu-114 tenha sido o avião comercial mais ruidoso de todos os tempos, superando até mesmo o Concorde. Foi inclusive o ruído extremo que limitou a sua velocidade – se empregassem a potência máxima de cruzeiro, o avião seria simplesmente insuportável para seus passageiros. (Aliás, há registros de que muitos tripulantes dos Tu-95 militares tiveram severas perdas auditivas.)

O Tu-114 poderia voar, se dependesse do desempenho de seus motores, à “True Air Speed” (TAS), ou “Velocidade Verdadeira” de 500 Kts (925 km/h), mais rápido que a maioria dos jatos comerciais de hoje, exceto o Boeing 747. Os aviões voaram em rotas internacionais entre Moscou e Paris, Belgrado, Kopenhagen, Montreal, Nova Delhi e Tóquio (em parceria com a JAL). Um modelo de longo alcance, o Tu-114D, conseguia voar entre Moscou e Havana sem escalas.

Quando os Tu-114 foram substituídos nas principais rotas internacionais por jatos Ilyushin Il-62, na década de 1970, passaram a servir rotas domésticas de alta densidade, com um apertado e desconfortável arranjo de 220 poltronas.

As aeronaves foram desativadas em 1976 e foram usadas por algum tempo pela Força Aérea Soviética, mas poucos exemplares foram preservados. O mais conhecido deles está no Museu de Monino, em Moscou.

tupolev4Imagem: Reprodução Cultura Aeronáutica

Deixando seu legado também na história da aviação nacional, um Tupolev Tu-114 veio ao Brasil trazendo o cosmonauta Yuri Gagarin para uma visita (Gagarin chegou ao Brasil em 29 de julho de 1961, quando foi condecorado pelo Presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul por sua façanha de ser o primeiro homem no espaço).

A aeronave pousou nos aeroportos de Viracopos, em São Paulo, e Brasília. A altura da aeronave causou o mesmo constrangimento que Khrushchev passou nos EUA: nenhuma escada alcançava as portas e tiveram que improvisar a saída dos tripulantes.

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