Vickers Valiant, o bombadeiro britânico

O jato Vickers Valiant foi o primeiro projeto apresentado e aprovado pela Royal Air Force (RAF), a Real Força Aérea britânica, como bombardeiro de alta altitude e de capacidade nuclear tática.

Quando na década de 1950 o governo britânico comunicou a necessidade de uma aeronave que voasse a 50 mil pés (um pouco acima dos 15 km), a uma velocidade média de 500 kts e fosse capaz de voar com bombas de 10 mil libras, três projetos foram apresentados: o Handley Page Victor, o Avro Vulcan e o Vickers Valiant.

Todas as três aeronaves cumpriam os requisitos de Londres, embora o Vulcan e o Victor se mostraram superiores ao projeto do Valiant. Mas mesmo sendo um avião inferior aos demais, por ser mais barato, a Vickers conseguiu a aprovação governamental para seguir adiante.

valiant1Imagem: Reprodução Thunder and Lightnings

A decisão se mostrou mais do que assertiva: o Handley Victor apresentou problemas e o Vulcan teve que refazer o design da asa após o protótipo voar.

Além disso, o design do Valiant era bem mais simples do que seus concorrentes e com maiores chances de não sofrer grandes problemas durante o desenvolvimento e produção: contava com uma asa alta com um ângulo pequeno em relação a fuselagem, com inclinação negativa – um tanto quanto desajeitado e sem estilo, porém eficiente e barato.

A partir de fevereiro de 1949, a Vickers trabalhou intensamente para fazer metros e mais metros de projeto em papel virarem um avião. O resultado saiu do hangar e ganhou os céus em maio de 1951, pilotado por dois pilotos de testes.

O primeiro jato (que ainda não tinha o nome de Valiant), designado WB210, voou de forma satisfatória e mostrou que a simplicidade do projeto era factível para um bombardeiro tático nuclear, que equipava quatro motores a jato de 9,500lbs de empuxo cada um, na asa, juntos à fuselagem.

valiantImagem: Reprodução Prototypes

O primeiro jato sofreu um acidente fatal em 1952, durante um teste de medição de ruído da cabine. Os dois motores que ficavam juntos à fuselagem foram desligados intencionalmente e, na tentativa de acioná-los, houve vazamento de combustível por toda a superfície dos flaps.

Com a faísca gerada pelas tentativas de ignição, o combustível se inflamou sob as asas. Os pilotos ejetaram e os engenheiros de teste conseguiram pular pela porta inferior. O co-piloto não teve a mesma sorte e, no choque contra a seção da cauda, sofreu morte instantânea.

Mesmo com um acidente com morte, o projeto continuou. Pouco tempo depois, a segunda aeronave de testes ficou pronta, dessa vez equipada com os novos quatro motores Rolls Royce Avon. Curiosamente, foi o primeiro motor a jato de fluxo axial. 

valiant3Imagem: Reprodução Thunder and Lightnings

O segundo avião foi vital para a consolidação do projeto. Para o início da produção, pediram que o avião fosse também capaz de fazer bombardeios de baixa altitude e precisão, utilizando armamento convencional. Tempos depois, o pedido para que o avião fosse capaz se tornar um bombardeiro convencional foi motivado pela conclusão de que sobrevoar a ex-URSS era muito mais perigoso do que se imaginava.

Ao mesmo tempo que o Valiant se desenvolvia, se iniciava o projeto de mísseis balísticos de longo alcance, capazes de carregar ogivas nucleares. Ou seja, para um ataque devastador, aviões não seriam mais necessários. Mas esta foi apenas uma das razões que levaram ao fim prematuro da aeronave.

O começo dos anos 1950 foi o início da era do jato. Logo, era claro para os fabricantes que quem conseguisse colocar a tecnologia para uso civil teria um sucesso imenso. A Vickers, se valendo da plataforma tecnológica Valiant, apresentou um jato civil, batizado Vickers1000. O projeto teve apoio da BOAC e do governo, mas fracassou – a aeronave tinha um custo muito mais alto que o então novo Boeing 707, outro ponto negativo para o Valiant.

Contudo,  o primeiro jato de produção foi entregue em 1953. Diversos esquadrões foram montados ao redor do mundo e mais de 100 aeronaves foram produzidas em diversas variações – entre elas, aeronaves feitas para reabastecimento em voo de caças de suporte e escolta.

valiant2Imagem: Reprodução Air Sock

O Valiant, contudo, foi usado na Guerra de Suez, quando o Egito tentou nacionalizar o lucrativo canal de Suez, que naquela época estava sob a chancela britânica. Os ataques foram a baixa altitude, um tipo de ataque em que o Valiant não era dos mais eficientes.

E sim – ele foi utilizado em sua finalidade inicial – limitando-se porém a testes nucleares. Disparou a primeira bomba nuclear britânica feita para ser utilizada de um avião e também participou dos testes da primeira arma nuclear de tipo hidrogênio.

A produção do Valiant cessou em 1957, devido ao seu alto custo, considerando que seus contemporâneos V-Bombers eram aeronaves mais eficientes e com custo mais baixo. O último Valiant em operação voou pela última vez em 1968, colocando fim ao primeiro jato de ataque nuclear britânico.

Via Aviões e Música

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