Documentos obrigatórios a bordo de uma aeronave: saiba quais são! (parte 2)

Cada aeronave tem em seu rol de documentos um conjunto de Manuais de Voo cujo conteúdo deverá ser do conhecimento do piloto que deseja operar essa aeronave de forma correta e segura. Segundo o Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica 21.5, um Manual de Voo aprovado deve ser entregue ao comprador de uma aeronave, mesmo que essa aeronave tenha sido certificada segundo um regulamento que não requeira tal manual. Normalmente, esse manual é fornecido pelo fabricante detentor ou licenciado do Certificado de Homologação de Tipo – CHT da aeronave.

O objetivo é garantir que as informações necessárias estejam presentes num Manual de Voo aprovado, de maneira que estejam disponíveis e proporcionem a operação da aeronave, de forma recomendada ou mandatória ao cumprimento dos requisitos de certificação e dentro dos limites operacionais estabelecidos. O Manual de Voo também pode ser denominado de “Manual de Operação” ou “Manual do Piloto”. Versões em inglês podem ser denominadas Aircraft Flight Manual (AFM), Pilot’s Operating Handbook (POH) ou Pilot’s Flight Manual. O POH é publicado para aeronaves de pequeno porte, cujo volume de informações é compatível com a existência de uma publicação única, ou em um único volume. Existem outras denominações para o Manual de Voo, mas a ANAC recomenda a denominação Aircraft Fligh Manual. É recomendável que esses manuais de aeronaves nacionais sejam publicados em português. Todavia, entende-se que é oneroso ao fabricante nacional emitir e manter atualizadas publicações de conteúdo similar também em inglês. Para aeronaves de fabricantes estrangeiros, certificadas pela ANAC-GGCP (validações), a exigência de apresentação de um manual em português acarreta um grande esforço. Assim, a ANAC aceita os manuais de aeronaves de fabricantes nacionais e estrangeiros escritos em inglês. Portanto, para o piloto é primordial o conhecimento da língua inglesa, não só para as comunicações em voos internacionais, mas também para a correta compreensão dos Manuais de Voo.

Airplane Flight Manuals (AFM)

Os AFM e POH são publicações de referência que fornecem informações específicas sobre uma aeronave ou assunto em particular. Elas contêm fatos básicos, informações e instruções ao piloto sobre a operação da aeronave, as técnicas de voo etc., e devem estar disponíveis para uma consulta imediata. Os pilotos devem seguir as instruções, limitações, marcas e placares provenientes de um AFM aprovado. O POH é uma publicação desenvolvida pelos fabricantes para referência rápida baseada nas informações de um AFM aprovado. Em alguns casos, é conhecida também como QRH (Quick Reference Handbook) ou publicação de referência rápida.

Apesar de os Manuais de Voo (AFM / POH) serem similares para um mesmo tipo e modelo de aeronave de um fabricante, cada um é único e contém informações específicas para uma aeronave em particular. O fabricante é obrigado a identificar o número de série e o prefixo da aeronave para a qual o AFM/POH foi publicado. Se o manual não identificar a aeronave, ele é um manual genérico e deve ser usado somente para estudo.

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Figura 1 – POH Beechcraft Baron

Um manual típico AFM/POH é composto por nove seções:

Seção 1 – General;

Seção 2 – Limitations;

Seção 3 – Emergency Procedures;

Seção 4 – Normal Procedures;

Seção 5 – Performance;

Seção 6 – Weight and Balance/Equipment List;

Seção 7 – Systems Description;

Seção 8 – Handling, Service, and Maintenance e

Seção 9 – Supplements.

A seção 1, chamada General, trata das informações descritivas básicas e gerais da aeronave. Alguns manuais incluem um desenho com as várias dimensões da aeronave, como sua altura, comprimento, envergadura, distância entre os trens de pouso, raio mínimo de curva no táxi, etc. De modo geral, essa seção serve para familiarizar o piloto com a aeronave. O segmento final da seção contém definições, abreviaturas, simbologias e terminologias utilizadas no manual. É importante para a compreensão do manual o conhecimento desses itens.

A seção 2, Limitations, trata das limitações impostas durante a homologação da aeronave e aquelas necessárias para a sua operação segura, além de garantir também segurança aos motores,  sistemas e equipamentos. Portanto, ela inclui as limitações operacionais, marcas nos instrumentos, código de cores e os placares básicos. As limitações são aplicadas em algumas áreas, como: velocidades, motores, pesos e carregamento, sistemas e no voo.

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Figura 2 – Placares de aviso e limitações. PHAK, 2010

Na seção 3, Emergency Procedures, os procedimentos de emergência estão localizados nas listas de verificação (Checklists), descrevendo os procedimentos e velocidades recomendados para lidar com vários tipos de emergências ou situações críticas. Algumas das emergências abordadas incluem: falha ou fogo do motor e falhas de sistemas, procedimentos para a partida do motor em voo e de pouso na água. Os fabricantes podem mostrar primeiro uma lista de verificação de emergência, de forma abreviada, com a ordem dos itens refletindo a sequência de ação. Checklists ampliados que fornecem informações adicionais sobre os procedimentos acompanham a lista abreviada. Para estar preparado para situações de emergência, é necessário memorizar os itens de ação imediata (memory items), que, após executados, devem ser confirmados com a lista de verificação apropriada. Ainda, os fabricantes podem incluir uma subseção opcional intitulada Procedimentos Anormais (Abnormal Procedures). Essa subseção descreve os procedimentos recomendados para o tratamento de falhas que não são consideradas emergências.

Na seção 4, Normal Procedures, sobre os procedimentos normais, começa a descrição de uma lista das velocidades para as operações normais. A área seguinte consiste na descrição dos vários procedimentos necessários para a operação normal, incluindo todas as fases do voo, acompanhadas dos checklists específicos de cada uma delas. Normalmente, essa descrição segue a mesma sequência de um voo normal, ou seja, a sequência das fases do voo: prefligth inspection, before start procedures, after start, taxi procedures, before takeoff, after takeoff, climb, cruise, descent and approach procedures, before landing, after landing etc. Para não perder passos ou ações importantes dos procedimentos, mantenha-se fiel ao uso dos Checklists (listas de verificação). A adesão consistente aos checklists aprovados é sinal de um piloto disciplinado e competente.

A seção 5, Performance, que é o desempenho, contém todas as informações exigidas pela regulamentação de certificação da aeronave e quaisquer outras adicionais relevantes, para o piloto poder operar a aeronave com segurança. Gráficos e tabelas de desempenho podem variar em estilo, mas todos contêm a mesma informação básica. Incluem um gráfico ou tabela para conversão de velocidade calibrada para velocidade verdadeira, velocidade stall, em várias configurações, e dados para determinar o desempenho de decolagem, subida, cruzeiro e de pouso.

A seção 6, Weight and Balance, sobre peso e balanceamento, contém todas as informações exigidas pela autoridade aeronáutica para calcular o peso e balanceamento de uma aeronave, incluindo a lista de equipamentos instalados na aeronave e seu peso básico operacional. É normal encontrar nessa seção exemplos de problemas práticos de peso e balanceamento fornecidos pelo fabricante.

A seção 7, Systems Description, descreve os sistemas da aeronave de forma adequada à compreensão do piloto que terá maior probabilidade de operar a aeronave. Por exemplo, um fabricante pode assumir que para uma aeronave avançada, um piloto experiente estará lendo as informações e, portanto, conhecimentos básicos dos sistemas não serão discutidos. O oposto poderá ocorrer para aeronaves mais simples e menores. De modo geral, a descrição dos sistemas é acompanhada por quadros sinópticos ou desenhos dos sistemas e seus componentes, para melhor visualização do seu funcionamento.

A seção 8, Handling, Service and Maintenance, descreve a manutenção e as inspeções recomendadas pelo fabricante e os regulamentos. Manutenção ou inspeções adicionais podem ser exigidas pela emissão de AD (airworthiness directive) aplicável à aeronave em questão ou aos seus componentes. Essa seção também descreve a manutenção preventiva que pode ser realizada, bem como os procedimentos recomendados pelo fabricante para os serviços e cuidados da aeronave no solo, como o abastecimento de combustível, reboque da aeronave, conexão de equipamentos externos, hangaragem etc.

A seção 9, Supplements, que é a suplementar, contém as informações necessárias para se operar a aeronave de forma segura e eficiente, quando são instalados sistemas e equipamentos opcionais (não fornecidos com o avião padrão). Algumas dessas informações podem ser fornecidas pelo fabricante da aeronave ou pelo fabricante do equipamento opcional. A informação adequada é inserida no Manual de Voo, no momento em que o equipamento é instalado. Pilotos automáticos, sistemas de navegação e sistemas de ar condicionado são exemplos de equipamentos descritos nesta seção.

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Figura 3 – Manual de equipamentos opcionais

Outras seções poderão ser incluídas a critério do fabricante. Alguns fabricantes fornecem o manual de informação ou do proprietário de aeronave. Mas cuidado! Esse não é um Manual de Voo, pois fornece apenas informações genéricas, não é aprovado por autoridade aeronáutica, não é mantido atualizado e não substitui o AFM/POH. O Manual de Voo é uma importante fonte de informação para o piloto e deverá estar sempre ao seu alcance durante as operações.

Confira a primeira parte do Manual de Voo aqui: http://goo.gl/jDOfwv

Fonte: PHAK, 2010. RBHA 91/21, IAC 5131.

 

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