Manteiga Aviação: marca brasileira, aeronave alemã

Originária de São Paulo, a Manteiga Aviação é uma daquelas marcas que se pode considerar um verdadeiro ícone nacional. Presente nas mesas de café da manhã de norte a sul do país, sua inconfundível latinha alaranjada com um avião estampado lembra a figura da aviação no cotidiano de milhares de brasileiros há mais de 90 anos.

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Com o diferencial do envase em latas, sua produção teve início em 1922, sob comando da família Gonçalves Salles, em uma fábrica situada na cidade de Passos (MG). No entanto, faltava naquele momento um nome fantasia que chamasse a atenção dos futuros consumidores e que se relacionasse com o progressismo pregado pela industrialização da década de 1920.

Sendo assim, os proprietários decidiram pelo nome “Aviação”, pois, à época, era o tema da moda. Começavam a surgir as primeiras companhias aéreas no país e as “máquinas voadoras” geravam um verdadeiro frisson por onde passavam. “A criançada do interior, quando via um avião no céu, achava uma coisa fantástica”, explica Geraldo Alvarenga Filho, atual presidente da empresa.

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A primeira imagem da marca foi um biplano, símbolo que permaneceu na tampa e na fachada da fábrica até os últimos anos da década de 1930. Foi quando a popularização de modelos mais modernos forçou a marca se adequar e o novo representante passou a ser o trimotor alemão Junker JU52 – uma importante aeronave para a história da aviação comercial brasileira e que se mantém até hoje como a logo da empresa.

Conheça a aeronave da latinha

Mito da Segunda Guerra Mundial, a aeronave atuou de forma brilhante no conflito, lançando paraquedistas alemães e evacuando tropas. Não contava com um desempenho espetacular ou uma capacidade fora do comum, mas era considerado um avião confiável, robusto e cuja capacidade de lotação o tornava um verdadeiro “jumbo” em seu tempo. Por essa característica, sua carreira na aviação comercial se estendeu por longos anos, tanto que ainda hoje existem Ju52 em condição de voo.

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Seu protótipo, criado como monomotor, foi apresentado à Força Aérea Alemã em novembro de 1930, recebendo autorização de produção no mês seguinte. Porém, logo a equipe viu no JU 52/1m a possibilidade de contar com mais dois motores para criar um trimotor de grande capacidade de carga. Assim, recebeu três motores P&W Hornet de 550 Hp cada um, passando a se chamar Ju 52/3m.

Este novo aparelho voou em 7 de março de 1932 e logo passou a ser adotado em larga escala. Ao final de 1932, a Lufthansa optou pela encomenda de dois aviões para operar as rotas Berlim-Londres e Berlim-Roma. O sucesso imediato do avião o tornou a espinha dorsal da companhia alemã, posteriormente se fazendo presente na frota com cerca de 230 aviões.

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Com escada própria para o embarque e desembarque, era funcional e confortável. Por dentro, sua cabine possuía espaço para alocar bagagens sobre os passageiros, janelas com excelente visibilidade e um total de 18 assentos, com descanso de braço. Seus motores chegaram ao ponto de possuir 830Hp (BMW 132T-2), porém, o seu escapamento contava com dutos anelares posicionados de forma que a fuligem não escapasse em direção ao interior da aeronave – consequente, não causando interferências à cabine/fuselagem.

O Ju 52 chegou ao Brasil em 1933, pela Sindicato Condor, e em 1936, pela VASP. O modelo fez o CONDOR atuar desde o litoral nordestino até a Amazônia. Pela VASP, coube a uma dupla de JU 52/3m inaugurarem uma rota que se eternizou: São Paulo-Rio de Janeiro. A VASP usou o avião PP-SPD (batizado São Paulo) e PP-SPE (batizado Rio de Janeiro) para operar o trecho, cada um saindo da respectiva cidade, com duração de 100 minutos de voo para cada trecho.

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Em 1939, a VASP usava o modelo para três frequências diárias na Ponte Aérea. Porém, a partir de 1943, VASP e CONDOR passaram a ter enormes dificuldades para operar esses aviões devido à escassez de peças, em virtude da guerra. Já a VARIG teve um único Ju 52/3m que foi retirado de voo após um acidente ocorrido próximo a Porto Alegre (RS). Em 1950, já não haviam mais Ju52/3m operacionais no Brasil.

Atualmente, existem quatro Junkers Ju52/3m de fabricação alemã em perfeito estado de operação. O mais famoso deles é o “D-AQUI”, fabricado em 1936, que segue em serviço pela Lufthansa.

Imagens: Reprodução
Via Aviões e Música e Blog Aeros Ng Canela

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