A primeira década dos anos 2000 foi de declínio para a aviação comercial brasileira. Tudo começou em 2002 com o fechamento de uma das maiores companhias aéreas do país, a Transbrasil. Três anos mais tarde, em 2005, foi realizado o último voo comercial e decretada a falência da Viação Aérea São Paulo (Vasp). Já no ano seguinte foi a vez da Viação Aérea Rio Grandense (Varig) encerrar suas operações no Brasil e exterior.

Com o fim das três gigantes da aviação muitos se perguntaram o que seria feito com os aviões inoperantes. Algumas aeronaves foram incorporadas as frotas de outras empresas que compraram títulos das antigas companhias, como é o caso da GOL, que adquirou os direitos de rota da Varig por US$ 320 milhões. Em outras situações, as aeronaves foram leiloadas para quitar dívidas com credores. As 448 toneladas de peças do desmonte de 17 aviões da Vasp, por exemplo, que estavam espalhados em oito aeroportos do Brasil, foram arrematadas pela internet entre 20 e 30 de setembro de 2013. Os lances somaram R$ 1,9 milhões para o Conselho Nacional Justiça, montante que foi utilizado para o pagamento de débitos.

Outras quinze aeronaves  da Vasp — Boeing 737-200 e Airbus A300 — foram compradas com o intuito de serem preservadas por inteiro. Foi a partir desses modelos, que se mantiveram intactatos, que surgiram novas utilidades para os aviões aposentados. Confira o que foi feito com essas preciosas relíquias da aviação brasileira.

Do céus para o fogão: avião transformado em panela

Sim! Você leu certo. Algumas aeronaves foram compradas por donos de fundição no interior do país. Após derretido, o alumínio de modelos como Boeing e Airbus chegaram até as fábricas de panelas, principalmente nas cidades de Sorocaba e Cubatão, em São Paulo. Talvez você esteja utilizando uma panela de avião e nem saiba.

Avião-cinema

Outro inusitado fim para as aeronaves fora de circulação, está localizado na cidade de Panambi (RS). Um Boeing 737, com 33 metros de comprimento, foi todo modificado e transformado em uma sala de projeção, onde permanece sobre um pedestal no pátio do Museu Militar Brasileiro. Um empresário gaúcho, apaixonado por aviação, foi o responsável pela ideia. No espaço são exibidos documentários que esclarecem e contam a história das forças armadas no Brasil.

Boeing 737 virou cinema no Rio Grande do Sul.

Avião-restaurante

Durante uma viagem de avião é quase unanimidade que ninguém aprecia muito a comida servida. Agora, e que tal se esse avião tivesse uma equipe especializada em gastronomia e nada de turbulências para atrapalhar o jantar? Pois é possível desfrutar dessa experiência em Porto Belo (SC). Batizado de “Pizzaria do Avião”, o negócio está localizado às margens da BR- 101. O empreendimento foi inspirado no Aero Flop, antiga pizzaria de Florianópolis, construída a partir do Y-11 que se acidentou em Navegantes (SC), em 1977.

Pizzaria em formato de avião é atração na cidade de Porto Belo (SC).

Em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, uma obra chama atenção: operários trabalham na reforma de um Boeing 767-200 da falida Transbrasil. A ideia do empreendimento surgiu após quatro amigos viajarem para a Coréia do Sul, em 2013. No país asiático, o restaurante servia comidas típicas à beira-mar.

Avião- centro de eventos

Em Araraquara (SP), um Boeing 737, modelo que pertenceu a Vasp,  integra o principal centro de eventos da cidade. A operação para transportar a aeronave de São Paulo até Araraquara por 300 km foi gigantesca e cara, tendo levado quatro dias e custado R$ 140 mil, sem mencionar que para a reforma foram gastos mais R$ 1 milhão.  O avião fabricado para voar até 960 km/h viajou a modestos 40 km/h no trajeto.

Avião sendo transportado para Araraquara em 2012.

Nos EUA, avião foi transformado em casa e na Suécia, em hotel de luxo

Não foi só aqui no Brasil que aviões sucateados tiveram um reaproveitamento interessante. Nos Estados Unidos, um homem, em vez de simplesmente reutilizar peças ou mandar o Boeing 727 para a reciclagem, decidiu pousá-lo em um terreno nos arredores de Portland, no estado de Oregon e transformá-lo em uma casa. A aeronave foi comprada em 1999 e desde então já se foram cerca de US$ 220 mil para consertar e adaptar o avião.

Já na Suécia, o Jumbo Hostel, virou atração na cidade de Estocolmo. Um luxuoso hotel foi criado a partir da carcaça de uma aeronave descartada. O avião tem 25 quartos e a principal suíte está situada onde antes era a cabine do piloto.

 E aí, se inspirou e teve alguma ideia para criar um item só seu?