A origem do Correio Aéreo no Brasil

O primeiro registro de transporte aéreo de malas postais que se tem notícia no Brasil, ocorreu no dia 15 de agosto de 1919, quando o hidroavião HS-2 nº11, tripulado por oficiais da marinha, levou a correspondência do ministério para uma divisão que participava de manobras na Ilha Grande, inaugurando o Correio da Esquadra. Somente em 1934, seguindo o exemplo da aviação militar, a marinha criava oficialmente o seu Correio Naval.

Na aviação militar, o correio aéreo tem origem em 1931. Na época, a Escola Militar de Aviação recebia treinamento da missão francesa, e o comando era exercido por dois oficiais, um brasileiro e outro francês. O brasileiro era o Tenente Coronel Amilcar Pederneiras, e o francês, o coronel André Séguin. Rigoroso, o coronel Séguin estabeleceu um cilindro imaginário de 10 km de diâmetro em torno do Campo dos Afonsos e proibiu que os aviões militares, salvo exceções, voassem fora daquela área. Estes limites, contudo, não eram exigidos aos pilotos estrangeiros, no caso os franceses, que podiam voar livres pelo Rio de Janeiro.

Na aviação militar, havia um grupo de oficiais que não só discordava das restrições, mas sonhava com voos mais altos: a criação de um Correio Aéreo Militar que pudesse interligar as distantes regiões do país. Oficiais incentivavam os seus companheiros da Escola de Aviação Militar para a realização do projeto, a fim de terem a oportunidade de adquirir experiência em voos de longa distância e, ao mesmo tempo, levar correspondência para o interior do país, visto que as linhas estrangeiras só atuavam no litoral.

A ideia prospera no seio do governo e, em 1931, uma reorganização da aviação militar resultou na criação de uma unidade denominada Grupo Misto de Aviação. Nesta nova unidade, foi criada uma Esquadrilha de Treinamento, sob o comando do tenente Lavanère-Wanderley. À disposição da esquadrilha foram colocados os antigos Curtiss “Fledgling” – designação de um filhote de pássaro com penugens, ainda no ninho, prestes a voar –, aviões de treinamento equipados com um motor Wright de 170 HP e velocidade de cruzeiro de 120 km/h. A frota de Curtiss “Fledgling” era composta por três aviões usados, adquiridos dos Estados Unidos pelo exército, e quatro aeronaves do mesmo modelo, desapropriadas da Força Pública de São Paulo ao término da Revolução de 1930.

O Curtiss“Fledgling” se preparando para o voo.
O Curtiss“Fledgling” se preparando para o voo.

A transferência das aeronaves da Força Pública para a União foi feita através de decreto, sob a justificativa de que a posse daqueles instrumentos caberia ao Exército, e não à força de segurança de um estado. Feitos os ajustes finais, foi criada, na estrutura do Grupo Misto, uma unidade postal com a denominação de Serviço Postal Aéreo Militar (SPAM), que, em seguida, teve a sua designação mudada para Correio Aéreo Militar (CAM).

Em 1941, a criação do Ministério da Aeronáutica reuniu numa só organização o Correio Aéreo Militar e o Correio Aéreo Naval, dando origem ao Correio Aéreo Nacional (CAN). No dia 12 de junho de 1931, sob as ordens do então SPAM, um Curtiss “Fledgling” decola do Rio Janeiro para São Paulo, levando correspondências e inaugurando o serviço postal aéreo militar.

A linha seguinte do correio pretendia ligar o Rio de Janeiro à cidade de Goiás, na época capital do Estado de Goiás. O novo destino era uma localidade isolada e somente alcançada através de precárias estradas. O desafio exigiu visitas de oficiais às prefeituras do trajeto, a fim de convencê-las a construir campos de pouso para os aviões que fariam a nova linha. Feitos os acertos para a implantação da linha, no dia 21 de outubro de 1931, dois dias depois de partir do Rio de Janeiro e cumprir sete escalas no percurso, o Curtiss tripulado pelos tenentes Joelmir Araripe e Nelson Wanderley pousava em Goiás.

A história da expansão do Correio Aéreo Nacional é uma epopeia de heroísmo e idealismo, que, certamente, tem como uma das suas destacadas conquistas, a imensa contribuição prestada à integração e à ocupação das longínquas fronteiras do Brasil. Em 1972, o Congresso Nacional aprovou uma lei considerando o Brigadeiro Eduardo Gomes “Patrono do Correio Aéreo Nacional”.

Brigadeiro Eduardo Gomes
Brigadeiro Eduardo Gomes

Fonte: Adaptado. História Geral da Aeronáutica Brasileira, 1998.

 

 

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