Highways do céu – por dentro do fantástico mundo das aerovias

Olhe agora para o céu. Quantos aviões você consegue ver? Nove chances em dez de que não conseguiu ver rastro de turbina algum. A menos que more perto de algum aeroporto, heliponto ou aeroclube… Certo? Não exatamente. “Há mais aviões entre o céu e a terra do supõe a nossa vã filosofia”, diria Hamlet se fosse controlador de tráfego aéreo do Reino da Dinamarca.

Não que estejam à vista. Uns, descendo por aqui, decolando ali, mas muitos, muitos mesmo, podem estar bem em cima do seu café expresso. Só que a mais de dez quilômetros de altura. Camuflados pelas nuvens, na maioria das vezes, percorrem traçados difusos no espaço. Sobrevoam o céu em rodovias virtuais que se entrelaçam num complexo de teias hermeticamente coordenadas, por onde cruzam itinerários aéreos extremamente precisos.

highways-do-ceu-por-dentro-do-fantastico-mundo-das-aerovias-2Figura1 – Ilustração simbólica do fluxo aéreo mundial (WikiCommons)

O que seriam as Highways do céu?

São as chamadas aerovias. Rotas sobre as quais objetos mais pesados que o ar riscam o espaço aéreo diariamente, levando consigo, só no Brasil, mais de 100 milhões de pessoas por ano. Mas afinal, como funcionam essas estradas invisíveis no céu? Onde encontrá-las? Em que altura? Quem as controla? Como saber a rota que o piloto escolheu no seu próximo voo da ponte aérea?

Antes de tudo, vamos às definições. Conforme descreve, tecnicamente, a Instrução do Comando da Aeronáutica 100-37, uma aerovia é toda área de controle, ou parte dela, disposta em forma de corredor. Para a assimilação mais genérica, podemos dizer que uma aerovia é uma trajetória desenhada sobre coordenadas do espaço aéreo, dotada de informações específicas (identificação, posicionamento, rumo, altitude, etc.), destinada ao voo controlado de uma aeronave.

highways-do-ceu-por-dentro-do-fantastico-mundo-das-aerovias-1Figura 2 – Ilustração simbólica de parte do fluxo aéreo da América Latina (SAC-PR)

Aerovias garante voar com segurança e precisão

As aerovias são traçadas de modo a permitir que o piloto, através de seu equipamento de navegação, consiga navegar com segurança e precisão. São rotas aéreas que interligam certas posições pré-estabelecidas no mapa (referentes a instrumentos no solo ou coordenadas criadas para a orientação, os chamados fixos) com altitudes, direções e larguras variadas. Ou seja, muito mais do que uma simples reta, é um espaço com um volume considerável.

Uma espécie de tubo virtual, você diria? Quase isso. Ocorre que as aeronaves podem voar sobre a referida trajetória, desenhada no mapa, em diversas altitudes (níveis de voo).

Que tal um exemplo?

Numa aerovia cuja altitude mínima para voo seja de 15 mil pés (aproximadamente 4,5 Km), o avião poderá voar – conforme as normas que se aplicam à rota – em níveis de voo variados, digamos, até 24 mil pés (aproximadamente 7,3 km). Esses níveis de voo são separados verticalmente a cada 1000 pés: 15 mil pés (FL150), 17 mil pés (FL170), etc. Assim, com devida licença às assas da imaginação, pensemos numa aerovia como um muro que começa no meio do céu, formado por tubos empilhados verticalmente, dentro dos quais voariam as aeronaves (pensa que é fácil descrever o invisível?). Pois assim é no mundo inteiro. E já há um punhado de décadas.

Para visualizar melhor os conceitos descritos, confira o vídeo abaixo que simula de forma dinâmica e ilustrativa como funcionam as principais flyways na Europa. Olha só:

Tipos de Aerovias

Há, no entanto, algumas particularidades nessa orientação vertical. As aerovias estão divididas em dois grupos:

1 – Aerovias Superiores – cujos voos ocorrem acima de 24.500 pés (7.468 metros)
2 – Aerovias Inferiores – cujos voos ocorrem abaixo de 24.500 pés (7.468 metros)

Compreender esta divisão é algo importante, já que cada qual agrupa modelos bem diversos de voo. As rotas superiores são usadas, em geral, por jatos que voam mais alto. Companhias aéreas utilizam as aerovias de alta (superiores) para as suas aeronaves pressurizadas já que suas altitudes de cruzeiro superam muito o limite de 24.500 pés. Já as aerovias de baixa (inferiores) são usadas por aviões de menor porte, turboélices e, em alguns casos, helicópteros, como nos casos das rotas sobre a Bacia de Campos no Estado do Rio de Janeiro.

As próprias Cartas de Rotas (Enroute Charts – ENRC) – mapas destinados aos pilotos, onde estão dispostas as aerovias – são criadas a partir das necessidades destes grupos: há modelos exclusivos às aerovias de alta e às de baixa. Na figura abaixo é possível ver um exemplo de trecho de uma ENRC (L2) que corresponde às rotas inferiores na região do Distrito Federal.

highways-do-ceu-por-dentro-do-fantastico-mundo-das-aerovias-3Figura 3 – Carta de Rota ENRC (L2)

Cartas como as da figura acima, são desenvolvidas pelo Instituto de Cartografia Aeronáutica (ICA), órgão subordinado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) que prevê os serviços de navegação aérea do País e, por extensão, é o gestor das aerovias brasileiras. O DECEA administra atualmente um total de 258 aerovias: 144 referentes ao espaço aéreo superior (aerovias de alta) e 114, ao inferior (aerovias de baixa). Uma importante evolução está ocorrendo nas rotas brasileiras: a transição das rotas convencionais, baseadas nos auxílios localizados em solo, para as aerovias RNVA, orientadas por satélites a partir de aviônicos embarcados na própria aeronave.

Atualmente, 77% das aerovias de alta já viabilizam a navegação aérea orientada por satélites. A meta é que todas as aerovias de alta brasileiras operem em RNAV até o final de 2016. Como explicamos melhor neste post AQUI!

Fonte: Blog Sobrevoo
Autor: Daniel Marinho

Deixe aqui sua opinião