Para dar continuidade aos conhecimentos sobre a altimetria, vale lembrar os conceitos prioritários sobre altitudes e níveis de transição.
Todas as aeronaves que pretendam voar na mesma área, a partir de limites pré-estabelecidos, devem ter no altímetro o mesmo ajuste de pressão. Voa-se “altitude” desde a decolagem até uma referência conhecida como “Altitude de Transição”, indicada nas Cartas e Publicações Aeronáuticas.
Neste caso, o ajuste será QNH. Se vou sobrevoar Campinas (SBKP), vou inserir o QNH de Campinas, disponível no METAR daquele aeródromo. O mesmo acontece para qualquer outro local.
Caso o aeronauta cruze distâncias maiores, onde se perceba diferenças de pressão, a menos que se obtenha a pressão QNH do local de destino, o altímetro de bordo indicará uma elevação diferente da constante nas cartas. Isto porque o QNH no aeródromo de destino difere da pressão registrada no aeródromo de origem.
Mas não paramos por aqui. Imagine a seguinte situação: descolam várias aeronaves de cidade diferentes e distantes entre si. Uma (A) parte de São Paulo (QNH 1015,2 hPa, e vai voar a 24 mil pés), outra(B) de Rio de Janeiro (QNH 1003,2 hPa e vai voar a 25 mil pés), outra (C) parte de Curitiba (QNH 1025,2 hPa e vai voar a 26 mil pés) e por fim Campinas(D) (QNH 1013,2 hPa e vai voar a 27 mil pés). Cada qual com o seu QNH local.
Imagine, agora, que todas cruzem sobre uma referência virtual em voo, denominada “Faro”, sendo o QNH deste ponto de 1012,2 hPa.As suas altitudes indicadas terão uma diferença de 1000’ entre cada! Será que estão realmente seguros?
Na imagem (em preto, estão as altitudes em relação ao nível do mar), estão todos voando com 1000 pés de separação indicada, mas a separação real não reflete a indicada. O aeronave A está voando a uma distância de 24 mil pés em relação ao QNH 1015hPa. O B está indica 25 mil pés em relação ao QNH 1003hPa. A aeronave C mantém 26 mil pés em relação ao QNH 1025hPa e D voa a 27 mil pés em relação ao QNH 1013hPa. Ou seja, os ajustes são provenientes dos seus locais de origem!
Na verdade, a separação entre o B e o C é de apenas 406’. Quanto maior for a diferença entre as pressões (QNH), maior será o erro. Para evitá-lo, acima de uma certa altitude ou TA (do inglês, “Altitude de Transição”) todas as aeronaves passam a voar em relação à pressão atmosférica ao nível do mar nas condições ISA. Esta pressão é 1013.2 hPa, conhecido no Brasil como ajuste QNE.
Quando uma aeronave ajusta QNE, ela passa a voar em Nível de Voo ou FL (Flight Level). Assim, empregamos o ajuste QNH apenas para operações de aproximação de decolagem, e, após a TA, procederemos ao ajuste QNE.
Como todas as aeronaves voam em relação a esta isóbara padrão, mesmo que apresentem erros altimétricos, todos terão o mesmo erro, o que tornará o voo seguro e regulamentado. Nas aproximações, ajustaremos a Altitude QNH do aeródromo de destino e um ponto conhecido como “Nível de Transição”, momento em que deixamos de voar em nível de voo ou FL.
Mesmo que o órgão de tráfego aéreo nos forneça o QNH antes de passarmos este dado nível, não devemos inseri-lo antes de cruzar efetivamente o LT (ou “nível de transição”), pois iríamos começar a voar em relação ao nível do mar, ou seja, em altitude, estando ainda em nível.
É o caso das aeronaves B e C. O Nível de Transição está sempre acima da Altitude de Transição, e a distância física entre estes é entre 500’ a 1000’, num espaço que denominamos “Camada de Transição”. Nesta camada não se voa, apenas se cruza, e esta serve apenas para que o piloto tenha tempo para fazer o ajuste QNH para QNE e vice-versa.
Conforme a imagem, a aeronave voa no FL180. Ou seja, mantém uma distância de 18 mil pés em relação à isóbara 1013,2 hPa. Como a atmosfera não é constante, e a pressão varia ao longo das regiões, não há lógica para o piloto alterar o tempo todo para o QNH dos locais sobrevoados. Poderá ocorrer ao leitor que, ao voar FL em locais montanhosos, corre-se o risco de colidir em uma montanha.
Tal coisa é muito difícil de acontecer, pois a TA está calculada para cada local levando-se em consideração o revelo. Ainda, TL é determinada através do QNH, como se pode verificar na tabela de Altitudes/Níveis de transição abaixo. E ao sabermos que a TL fica sempre acima da TA de 500 a 1000 pés, voe tranquilo: estaremos sempre seguros sem termos altimétricos.
Via Dalton Rocha e Wikipedia