WACO, um clássico da Era de Ouro

Ao final da década de 1950, ao dar baixa da United States Air Force como piloto de caça, Richard Bach tentou a carreira na aviação comercial. Candidatou-se a uma vaga em uma grande companhia aérea norte-americana, porém, sem sucesso. Decidiu então mudar o foco de atuação e se aventurar pelo meio-oeste americano a bordo de um velho biplano, se tornando um barnstormer – ou, em tradução livre, um “bagunceiro de celeiro”.

Bach viajava por vilarejos e fazendas oferecendo, a preços populares, pequenos shows aéreos e passeios em sua carlinga aberta. Como um cigano, dormia sob a asa de seu avião e consertava, ele mesmo, após panes e incidentes, seu Detroit-Parks P-2A Speedster, fabricado em 1929. Nada o prendia, senão as forças da natureza ou suas próprias vontades.

barnstormerImagem: Reprodução Pinterest

Foi exatamente essa vida pela qual o jovem Bach se apaixonou e serviu de inspiração para seus maiores sucessos como escritor, entre eles “Biplano, O Dom de Voar” e o clássico “Fernão Capelo Gaivota”. E talvez sejam esses elementos de liberdade e de contato direto com o céu e a natureza que atraiam até hoje os apaixonados por aviação a voarem os velhos biplanos.

Um dos principais representantes dessa “Era de Ouro”, como ficou conhecida, é o clássico Waco, uma máquina que teria lugar cativo em qualquer museu, não fosse por um detalhe: a aeronave passou por uma profunda modernização sem perder suas características originais e continua em produção, angariando cada vez mais adeptos.

A boa notícia é que essa versão atualizada, que acaba de receber um upgrade, promete desembarcar em breve no Brasil!

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A história da atual WACO Classic Aircraft Corporation remonta ao início da década de 1920.  Nesta época, dois jovens visionários do estado de Ohio, Clayton Brukner e Elwood Junkin, conheceram os barnstormers Charles Meyers e George Weavers, e combinaram suas experiências para fundar a Weaver Aircraft Company, nome que deu origem ao acrônimo WACO.

Em 1923, Meyers e Weavers deixaram a companhia. Somente em 1925 viria o primeiro sucesso comercial da empresa: o WACO 9, do qual foram produzidos 260 exemplares. Seu sucessor, o modelo 10, teve nada menos que 1.623 unidades produzidas, o que deu fôlego à companhia para atravessar a Grande Depressão Americana.

Já na década de 1930, vários novos projetos de cabines abertas e fechadas saíram do papel, trazendo melhorias aos elegantes biplanos conhecidos por sua robustez e confiabilidade. Até o início da 2ª Guerra Mundial, a WACO detinha a invejável marca de ter entregado quase duas vezes mais aeronaves do que qualquer outro fabricante daquele período.

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No despertar da Guerra, a WACO desempenhou importante papel, fornecendo planadores e treinadores para as forças aliadas. Mas, apesar das características inovadoras e resilientes que a guiaram com sucesso por mais de 20 anos, a empresa não sobreviveu às demandas do pós-guerra, que pedia por aeronaves metálicas e de maior performance, e fechou suas portas em 1947.

A partir de então, os WACO, em suas quase 70 versões produzidas, continuaram vivos e idolatrados por operadores de todo o mundo, com o suporte do “The American WACO Club” e outras instituições, sempre despertando atenções por onde passavam.

Até que, em 1983, um grupo de empresários de Michigan resolveu abraçar o desafio de voltar a produzir o WACO, usando o mesmo certificado de tipo original da década de 1930, fato inédito na história da aviação.

Para isso, contrataram profissionais renomados provenientes de grandes fabricantes, como Piper, Taylorcraft e Ford, que cuidadosamente introduziram mais de 300 melhorias ao projeto original – sem, no entanto, modificar a herança visual e construtiva do modelo YMF.

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Entre as modificações mais notáveis estão o uso de aço 4130 nas tubulações estruturais, a introdução tanto de freios hidráulicos como de bequilha comandável e o aquecimento opcional para os cockpits dianteiro e traseiro, além de pequenas melhorias espalhadas pela aeronave visando à adequação aos novos requisitos de segurança e confiabilidade.

Os motores Jacobs foram adquiridos da Air Repair, que é a atual detentora de seu certificado de tipo. Eles são montados utilizando alguns componentes originais, conjugados a outros contemporâneos, que agregaram confiabilidade e facilidade de operação.

Em 1991, foi lançada a versão YMF Super, trazendo modificações significativas, como o aumento do comprimento da fuselagem em seis polegadas, a construção de um cockpit mais espaçoso em largura e comprimento, a utilização de profundor e leme balanceados e a incorporação de hélice de maior performance.

Em 2010, a WACO decidiu dar outro grande passo para o deleite dos aficionados do clássico, lançando a versão YMF – 5D. Dotada opcionalmente de motorização Jacobs R755-A2 300 HP e da famosa hélice alemã MT de madeira, passo fixo e baixa inércia, o modelo oferece um conjunto de maior performance e rápidas respostas às mudanças de potência.

Continuam disponíveis, ainda, as versões com hélice Sensenich de passo fixo e a Hamilton Standard, metálica e de passo variável. Os sistemas de refrigeração e filtragem do óleo foram melhorados, e sua 5D troca agora é requerida a cada 50 horas, em oposição às 25 horas anteriores.

No painel standard, o completíssimo Engine Analyzer EDM 930 mostra graficamente e de maneira intuitiva todos os parâmetros dos sete cilindros do portentoso motor radial. Outras opções deglass cockpit fazem parte do rol à escolha do cliente. Para os ocupantes do cockpit dianteiro, o avião recebeu melhorias em relação ao conforto térmico, imprescindível nesse tipo de aeronave, e o interior de luxo em couro passou a ser item de série.

Imagens Reprodução
Via Revista Aeromagazine

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